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12 julho 2013

Caminhos para a reescrita. Um parceiro conhecido e solidário

Por fim, é preciso lembrar sempre que esse texto escrito, pertencente à atividade pedagógica, é um bilhete orientador. O que faz dele um bilhete, afinal? É claro que não se confunde com os bilhetes que trocamos em casa, nem com o correio amoroso ou jocoso que circula entre os alunos... Mas não se pode perder de vista que há boas razões para se ter nomeado esse gênero de bilhete. Algumas pistas para isso estão nos interlocutores, no propósito, na composição e no estilo dos bilhetes, de modo geral. Bilhetes são textos curtos, que sinalizam de diversas maneiras que o locutor e o destinatário se conhecem e conhecem uma situação externa ao texto que lhes é comum; além disso, servem ao propósito de realizar ações conjuntas da vida cotidiana que são necessárias ou desejadas, mas que não podem ser comunicadas pela conversa oral, face a face, por alguma razão. Ou seja, mandamos bilhetes para lembrar, pedir, avisar, dar recados etc., para aqueles com quem convivemos muito, e até intimamente, quando fica difícil encontrar esse alguém. Não é mesmo perfeito para os nossos propósitos?

Tudo começa com o que chamamos de desafio ou quebra- -cabeça: queremos estar com cada um de nossos alunos no empreendimento comum e (re)conhecido de escrever um texto, mas não temos condições de estar com cada um deles no período da aula. Note que nos bilhetes esse conhecimento mútuo sobre a situação e a construção da reescrita como meta comum aparece em vários índices. A professora fala do texto como um conhecimento compartilhado por ambos – menciona trechos ou ideias do texto que ela e seu aluno conhecem sem precisar mostrar ou copiar. Ela dá recados ou dicas, que são expressos como possibilidades – “podes” ou “que tal” – e ainda faz perguntas. Em seus bilhetes, ela chega até a expressar que a reescrita é algo que farão juntos: “Agora, que tal fazermos mais umas estrofes?”.

Além disso, os bilhetes são curtos e sempre têm uma ou outra pitada de informalidade: tratam o interlocutor de modo bem direto, como uso de “tu” alternado com “você”, bem ao gosto da fala; espalham um “pro” ou “pra” aqui e ali etc. Tudo isso vai autorizando o locutor a ser diretivo às vezes, como em “Deixa isso mais claro pro teu leitor”. O imperativo, contudo, não torna esse locutor um julgador que desqualifica o texto, como em muitas correções com que convivemos! O bilhete converte o professor no companheiro de um fazer cotidiano que faz parte da vida – escrever –, e isso lhe dá o direito de pedir certas coisas de modo bem direto.
Luciene Juliano Simões, professora de estágio de docência em língua portuguesa do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), membro da rede de ancoragem da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Docente e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação da UFRGS.

Bruna Sommer Farias, professora de língua portuguesa e língua inglesa, mestranda na área no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRGS. Autora dos bilhetes orientadores que figuram neste artigo – os bilhetes foram escritos quando Bruna fez seu estágio curricular de português nos anos finais do Ensino Fundamental, sob a supervisão de Luciene Juliano Simões.

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