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09 julho 2013

Caminhos para a reescrita

Muitos têm dito que se aprende a escrever escrevendo. Contudo, essa é uma verdade que pode esconder muito do que se desenrola neste “escrevendo”, tão processual. Escrever está muito distante de ser um ato linear. Uma das notáveis características da prática da escrita é que ela se dá num vaivém, e um dos personagens principais da história da produção de um texto de qualidade é, sem dúvida, a conversa do autor com o próprio texto. Dessa interação autor-texto vão surgindo os cortes, as reformulações, os acréscimos. Lá pelo final da costura são decididos os arremates: uma última revisão, ou um último dedo de prosa do autor com seu texto, proporciona aquele capricho que entrevemos em todo bom resultado... Mas será que podemos, desde sempre, interagir com o nosso texto sem um terceiro? Ter um leitor solidário, além dele mesmo, pode ser uma vantagem enorme para um autor. E quando, em lugar de falar na prática de escrever, falamos em aprender a escrever, parece que essa conversa entre texto, autor e o terceiro precisa ficar mais audível e mais concreta, não é mesmo?

Vamos então reformular: aprende-se a escrever escrevendo e interagindo em torno dos vários textos de que será feito o texto final. O professor que está de olho em sua prática sempre pergunta a si mesmo: “Como posso potencializar minhas interações com minha turma?”. Afinal, ele sabe que nisso está a chave. Conversa vai, conversa vem, e temos a beleza da docência: a construção conjunta do conhecimento que será de todos e de cada um. Escrever é um desses conhecimentos: não é um dom, é algo que se pode ensinar e aprender numa boa conversa, que precisa se tornar constante no processo de escrita e reescrita na sala de aula.

Surge aí um desafio que todos nós, professores, enfrentamos cotidianamente. Ao receber os textos de nossos estudantes em sua primeira versão, logo reconhecemos como cada um deles parece nos assaltar com demandas heterogêneas. Um não encontrou seu questionamento central e está disperso, longo, com saltos de tópico em tópico; outro parece não se dar conta de que terá um leitor distante e escreve como se ele estivesse dentro de sua mente – tudo muito breve e cheio de lacunas. Na tentativa de escrever um poema, um parece não escutar as palavras e está preso ao sentido, enquanto o outro cobre seu poema de rimas, mas não parece dar ao texto uma unidade que o reverta em sentido poético. Enfim, de texto em texto constrói-se o quebra-cabeça: como vou conversar com tantos de uma só vez, no espaço das poucas aulas que temos, e intervir de modo eficaz, ajudando os estudantes a aprimorar sua escrita? Nosso convite a vocês, então, é o seguinte: “Que tal mandar bilhetes, um para cada aluno, cochichando ao pé do ouvido sobre o futuro do seu texto?
Luciene Juliano Simões
Bruna Sommer Farias
No próximo post continuaremos essa reflexão, certo? Então aguarde!

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